Menino

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Não! Não posso, não devo, não quero viver como toda essa gente insiste em viver. Não! Não posso aceitar sossegado toda essa sacanagem, toda essa injustiça, toda essa miséria. Não dá para engolir tanta safadeza, tanta cara de pau. Não! Não dá para aceitar o egoismo e o cinismo que cresce dentro de mim e de cada um e nos devora a todos.

Ah! menino que habita em mim, que se esconde num canto de minhalma. Assobia, sussurra, canta, grita, chora. Me estende a mão. Me mostra o calor do sol no meio dessa gélida escuridão. Me fala de amizade, respeito, caráter. Me faz crer na bondade. Me enche de alegria. Inunda-me de amor. Sim! Me faz levantar e correr e dançar transbordando esperança e graça.

Contagia a mim para que eu possa contagiar a outros.


"Eu lhes asseguro que, a não ser que vocês se convertam e se tornem
como crianças, jamais entrarão no Reino dos céus." Mateus 18:3






Bola de Meia, Bola de Gude

Milton Nascimento

Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão

Há um passado no meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão

E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito
Que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade, alegria e amor

Pois não posso, não devo, não quero
Viver como toda essa gente
Insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal

Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão

Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto fraqueja
Ele vem pra me dar a mão

O choro de Adão

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Surrupiado do blog do Marcos Botelho

Após a queda, Deus promete para Adão e Eva que Seu filho virá e pisará na cabeça da serpente. Adão vira para a serpente e desabafa: “Amanhã vai ser outro dia”.



Hoje você é quem manda, falou, tá falado
Não tem discussão, não.
A minha gente hoje anda falando de lado e olhando pro chão. Viu?
Você que inventou esse Estado, inventou de inventar toda escuridão
Você que inventou o pecado, esqueceu-se de inventar o perdão.

Apesar de você amanhã há de ser outro dia.
Eu pergunto a você onde vai se esconder da enorme euforia?
Como vai proibir quando o galo insistir em cantar?
Água nova brotando e a gente se amando sem parar.

Quando chegar o momento esse meu sofrimento, vou cobrar com juros. Juro!
Todo esse amor reprimido, esse grito contido, esse samba no escuro.

Você que inventou a tristeza, ora tenha a fineza de “desinventar”.
Você vai pagar, e é dobrado, cada lágrima rolada nesse meu penar.

Apesar de você amanhã há de ser outro dia.
Ainda pago pra ver o jardim florescer qual você não queria.

Você vai se amargar vendo o dia raiar sem lhe pedir licença.

E eu vou morrer de rir e esse dia há de vir antes do que você pensa.
Apesar de você

Apesar de você amanhã há de ser outro dia.
Você vai ter que ver a manhã renascer e esbanjar poesia.

Como vai se explicar vendo o céu clarear, de repente, impunemente?
Como vai abafar nosso coro a cantar, na sua frente.
Apesar de você

Apesar de você amanhã há de ser outro dia.
Você vai se dar mal, etc e tal...

Apesar de você
Chico Buarque
(alusão negativa ao presidente Emílio Garrastazu Médici)

Se o bem ou mal existem

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É preciso saber viver
Arranjo vocal de Fábio Sampaio
Música de Roberto e Erasmo Carlos




Quem espera que a vida
Seja feita de ilusão
Pode até ficar maluco
Ou morrer na solidão
É preciso ter cuidado
Pra mais tarde não sofrer
É preciso saber viver

Toda pedra do caminho
Você pode retirar
Numa flor que tem espinhos
Você pode se arranhar
Se o bem e o mal existem
Você pode escolher
É preciso saber viver

É preciso saber viver
É preciso saber viver
É preciso saber viver
Saber viver, saber viver!

Caminhando é que se faz o caminho

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Enquanto houver sol
Composição: Sérgio Britto



Quando não houver saída
Quando não houver mais solução
Ainda há de haver saída
Nenhuma idéia vale uma vida
Quando não houver esperança
Quando não restar nem ilusão
Ainda há de haver esperança
Em cada um de nós, algo de uma criança

Enquanto houver sol, enquanto houver sol
Ainda haverá
Enquanto houver sol, enquanto houver sol

Quando não houver caminho
Mesmo sem amor, sem direção
A sós ninguém está sozinho
É caminhando que se faz o caminho
Quando não houver desejo
Quando não restar nem mesmo dor
Ainda há de haver desejo
Em cada um de nós, aonde deus colocou

Enquanto houver sol, enquanto houver sol
Ainda haverá
Enquanto houver sol, enquanto houver sol