“Olha lá quem sempre quer vitória
e perde a glória de chorar
Eu que já não quero mais ser um vencedor,
levo a vida devagar pra não faltar amor”
Marcelo Camelo
e perde a glória de chorar
Eu que já não quero mais ser um vencedor,
levo a vida devagar pra não faltar amor”
Marcelo Camelo
Não foram poucas as vezes em que escutei um pastor orando com vigor num desses programas de televisão: “Nós determinamos a nossa vitória, agora!”. Interessante que, quando escuto essa frase, sempre lembro daquelas correntes de força positiva em desenhos animados de fantasia, tipo “A Caverna do Dragão”, em que todos se juntam e repetem uma frase-mágica para abrir um portal. “Sin-salabimbimbim!”, algo do tipo. Engraçado que, eu já conhecia a música do Marcelo Camelo há muito tempo e nunca tinha associado: a letra serve pra dar uma boa lição teológica na cabeça desses pastores que tentam determinar a vitória.
De modo bem genérico, a canção trata desse tipo de pessoa que não leva desaforo para casa, que não tem papas na língua; essas pessoas que “se for jogar é pra ganhar”. Marcelo Camelo zomba desse estereótipo do “vencedor” que nos cerca. “Chorar é coisa de menina”, “perder é só para os fracos”. Esse estereótipo (especialmente ligado ao homem e ao machismo) se difundiu de forma intensa em igrejas pelo mundo inteiro. Baseados na interpretação errônea do texto “Somos mais que vencedores em Cristo Jesus”, criaram a idéia de que “com Cristo é vencer ou vencer!”, ou mesmo “não diga que a vitória nunca vem, porque vitória pra você, Deus tem!”.
Essa idéia, do crente vitorioso, estranhamente não bate com palavras do próprio Cristo. Pois, o conceito de vitória exposto por Ele, parece ser muito mais abrangente. Perceba que quando Cristo diz “No mundo tereis aflições, mas, tende bom ânimo, eu venci o mundo”, ele está lançando para nós alguns princípios. O primeiro deles está ligado à idéia de que, por favor, realmente teremos problemas! A energia elétrica poderá ser cortada, você poderá ser despejado, quem sabe entrar em crise existencial, perder um ente querido ou até mesmo estar debilitado com uma séria doença. Sim, isso pode acontecer. Ou inúmeras outras coisas que tragam a você “aflições” como Cristo afirmou. E não me venha com evangeliguês tipo “tá amarrado, em nome de Jesus”!
Entretanto, ele nos traz o fim da afirmação: “mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”. Ora, é bom muito ouvir o que Cristo disse e tomar para si como uma certeza de que terei vitórias sempre. Mas, não. Creio que Cristo fala de algo maior. Ele venceu o olhar natural do mundo: ser torturado, crucificado, torturado na cruz e morrer abandonado. Pior desgraça não havia na época. Porém, Ele é o Filho de Deus que venceu o mundo, ressuscitando ao terceiro dia e trazendo salvação àqueles que nele crêem. Nossa vitória contra o mundo não está diretamente (ou totalmente, diria) ligada a vencer aflições do mundo. Mas, sim, ter a convicção de que, tudo isso pode acontecer, entretanto, venceremos ao final, correndo a carreira proposta e aguardando com fé: viver eternamente, sem aflições, nos altos céus, ao lado do próprio Deus.
No trecho da música, citado no começo do artigo, podemos encontrar alguns valores importantes. Camelo nos fala de alguém que “sempre quer vitória e perde a glória de chorar”. Há cristianismo? Sim: “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia” (Sl 46:1). Eu vivo o prazer de ter o abraço do Pai quando choro. Ele prometeu ser meu refúgio. Não quero perder a glória de chorar aos pés do Redentor.
"Eu que já não quero mais ser um vencedor,
levo a vida devagar pra não faltar amor”
levo a vida devagar pra não faltar amor”
A ironia é clara: não quero ser esse tipo de vencedor. Que quer vencer a todo custo, que não tem sentimentos. Eu também não quero. Eu quero ser o vencedor que leva a vida devagar pra não faltar o caráter de Cristo em mim. Não quero ser um apressado, acelerado em busca de tesouros e vitórias que vão ficar por aqui. Eu quero construir tesouros eternos, quero desenvolver construções que fiquem para eternidade, pra não faltar amor de Deus, nunca.
Eu não quero viver iludido com a teologia triunfalista. Acredito que isso entristece o coração de Deus. Sei que é seu desejo que os filhos vivam em sabedoria (basta ler Provérbios ou Eclesiastes). Viver a sabedoria, o conhecimento, com prudência. Ao mesmo tempo viver a emoção, não ser frio diante do amor que Ele reserva a nós. Por fim, deixo abaixo as palavras do autor aos Hebreus. Ele nos mostra bem o que fazer quando há problemas. Fazer o que Jesus faria é a chave. “Eu que nunca fui assim...muito de ganhar, junto aos mãos ao meu redor e faço o melhor que sou capaz só pra viver em paz”.
“PORTANTO nós também, pois que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta,2 Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus.3 Considerai, pois, aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos” (Hebreus 12:1-3)
toda glória a Deus,
semcor
Originalmente postado no blog diversitá.
4 comentários:
Por onde andei, que ainda não conhecia esse blog???...
Lindo texto, lindo texto...
Parabéns pelo paralelo traçado entre o real significado de ser "vencedor em Cristo" e a canção.
Realmente há um ensinamento maravilhoso do nosso Jesus ao homem nas passagens mencionadas. Como em tantas outras, é necessário meditar, refletir e, se possível, utilizar-se de poesias como essa música para perceber isso.
Os créditos vão pro Diversitá.
A vitória cristã está numa cruz! É o maior paradoxo de todos os tempos.
Os créditos vão pro Diversitá.
A vitória cristã está numa cruz! É o maior paradoxo de todos os tempos.
Postar um comentário